A comunidade segundo Santo Agostinho
Poucos homens apreciavam a companhia de outros homens como Agostinho. Educado dentro dos cânones da cultura clássica, via na amizade, no companheirismo e na partilha de vida os elementos que adoçam a amarga experiência do mundo e suas contradições. Os amigos são consolos nas adversidades, unguento para as feridas do existir.
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23.10.2023 - 09:35:00 | 3 minutos de leitura

Necessitamos dos outros para sermos nós mesmos, afirmava nosso Santo. Sua história é inseparável dos grandes amigos que o acompanharam praticamente em todos os momentos. Aliás, devia ser o nosso Agostinho um homem de um carisma invejável, pois onde ia era seguido pelos seus amigos; pois quando maniqueu os arrastou juntos, depois na fase cética muitos o acompanharam, finalmente quando convertido sentiu a necessidade de trazê-los de volta ao seio da Igreja Católica.
Já como leigo não católico, quis fundar uma espécie de comunidade filosófica, uma fraternidade de amigos, cujo objetivo era dedicar-se à verdade e fugir do caos do mundo. O projeto, relata Agostinho, estava indo às mil maravilhas, até que perceberam que muitos eram casados e outros desejavam fazê-lo, como o próprio Agostinho, e então o projeto ruiu. Mais tarde, já convertido ao catolicismo, enquanto esperava o batismo, reuniu-se em um lugar chamado Cassicíaco com sua mãe, seus filhos e muitos outros, onde viveram uma espécie de comunidade filosófica. Ali discutiu muitos temas e produziu suas primeiras obras, diálogos filosóficos muito interessantes.
Batizado, resolveu voltar à África, sua terra natal. Decidiu consagrar-se totalmente a Deus, fundando mosteiros e vivendo em comunidade com seus amigos. Inspirou-se na primitiva comunidade de Jerusalém, tal como relatada por Lucas, onde diz que os primeiros cristãos: “Tinham tudo em comum e ninguém reclamava nada como próprio” (Sermão 355, 1, 2). A comunhão deve ser total: de bens, afetos, ideais e, sobretudo, de Deus. Nestes mosteiros se alternavam momentos de silêncio, reclusão, interioridade e busca pela verdade, com momentos de diálogo, de partilha de comunhão de vidas e de ideais, mas também de trabalhos manuais. Seu sonho era ser, junto com seus irmãos de mosteiro, uma só alma e um só coração orientados para Deus. Descreveu assim essa alma única que devem ter os religiosos: “Tua alma já não te pertence completamente. Pertence também a teus irmãos. Contudo, a alma deles também pertence a ti. Tua alma e a deles são uma só alma: a alma de Cristo” (Epístola 243, 4).
Definia uma comunidade como um grupo de indivíduos unidos pela harmonia e pela comunhão das coisas que buscam e amam em santa companhia (A cidade de Deus, 19,24). Gritava como os Três Mosqueteiros do clássico romance de Alexandre Dumas: "Um por todos, porque todos por Um [Cristo]" (Sermão, 183,2) e fazia um jogo de palavras difícil de traduzir quando falava do ponto de partida que é Cristo para o ponto de chegada que é igualmente Cristo, para o qual devemos todos tender: Estamos todos no Uno (Cristo) em direção ao UNO, isto é, Deus (Comentário aos Salmos, 14,7,28).
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Fonte Centro de Estudos Agostinianos
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