A inquietude em Santo Agostinho
A inquietude é a marca registrada da personalidade de Agostinho, mas também um conceito importante em seu pensamento. Talvez a ideia que melhor resume o homem para ele seja a inquietude. O ser humano, por ser uma criatura, é naturalmente inquieto, intranquilo e agitado. Ser inquieto significa que não estamos satisfeitos, cheios e acomodados. A inquietude nos faz sentir vivos, pois percebemos que sempre algo nos escapa, que estamos sempre em movimento, que somos transitórios e peregrinos. Sempre buscando, sempre querendo.
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19.09.2023 - 09:50:00 | 2 minutos de leitura

A inquietude, conforme Agostinho a concebe, nasce da nossa tensão existencial: somos criados à imagem e semelhança de Deus, possuímos o seu Espírito divino soprado em nós, mas somos limitados, possuímos um corpo, uma história, uma existência concreta. Somos essa estranha síntese de infinito e finito, de matéria e espírito. A inquietude marca nosso descompasso existencial. Ela assinala justamente aquilo que nos falta. E o que falta à criatura, segundo Santo Agostinho? O seu criador. Por isso, a bela e famosa frase de abertura das Confissões, sua obra mais ilustre: "Fizeste-nos, Senhor, para Vós, e o nosso coração está inquieto enquanto não repousar em Vós" (Conf. 1,1).
Nossa inquietude faz com que busquemos incessantemente respostas sobre nossa condição no mundo. Buscamos nas coisas e nas pessoas o consolo, a felicidade e o repouso. Mas para Agostinho, trata-se de um simples subterfúgio essa nossa fuga para as coisas. De fato, a criatura se engana ao pensar que pode encontrar repouso e descanso nas coisas e nas outras criaturas. Nada e ninguém pode saciar a sua sede, exceto o seu criador. Nas criaturas, o homem só encontrará mais inquietude e, consequentemente, mais infelicidade. Erramos quando queremos que o outro nos dê somente aquilo que Deus pode nos proporcionar.
Enquanto existirmos aqui neste mundo, haverá sempre a inquietude. Nossa existência terrena se apresenta como um tempo de inquietude, ou seja, um tempo de luta, angústias, trabalhos e esforços. É o tempo do desejo, da fé e da esperança. Mas lá, na nossa verdadeira pátria, quando terminarmos nossa peregrinação, será o tempo do repouso, do sábado santo, da contemplação de Deus e será o tempo do amor, a única virtude necessária de todas.
Caro leitor, é interessante dizer que Agostinho começa as Confissões falando da inquietude do coração humano e termina a obra falando justamente do dia do descanso e do repouso final, o sétimo dia, o Repouso em Deus, que está reservado para todos desde a criação do mundo. “Na contemplação de Deus estão o fim de todas as boas ações, o descanso eterno e o gozo do qual jamais seremos privados” (A Trindade I,10).
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Fonte Centro de Estudos Agostinianos
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