A interioridade: caminhar por dentro
 
 

A interioridade: caminhar por dentro

A interioridade é um dos elementos característicos e definidores da experiência espiritual de Santo Agostinho e daqueles que o seguem, ou seja, os Agostinianos.

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07.08.2023 - 16:50:00 | 3 minutos de leitura

A interioridade: caminhar por dentro

Agostinho frequentemente convidava os seus interlocutores a fazer um mergulho para dentro de si mesmo e, por isso, passou a história como o mestre da interioridade. Mas para descrever melhor o que significa essa ideia, deve-se entender o seu conceito oposto, isto é, a exterioridade. Quando Agostinho fala da vida na exterioridade ele define também esse nosso modo de ser por meio da ideia de andar por fora, que naturalmente se contraporia ao andar por dentro. Quem anda por fora, anda desconectado, disperso, perdido, sem ponto de referência, dá voltas sempre em torno de si mesmo e nunca chega a si mesmo. Nas palavras de Agostinho: quem vive por fora, vive espalhando intimidades. Quem tem vida interior, vive por dentro, centrado, conectado consigo, com os outros e com Deus, aprendendo a unificar o seu ser e seus afetos.

O Santo de Hipona, lamenta-se que somos excelentes turistas da exterioridade, mas ineficazes desbravadores da interioridade."Viajam os homens para admirar as alturas dos montes, as grandes ondas do mar, as largas correntes dos rios, a imensidão do oceano, a órbita dos astros, e se esquecem de si mesmos!  O esquecimento de si mesmo, leva ao homem ao estado de alienação, onde perde sua intimidade, identidade e a verdade profunda do seu ser. A vida exterior faz com o homem se perca nas coisas e se misture com elas, perdendo, dessa forma, a sua forma originária. Agostinho assim descreveu esse processo: Eu, disforme, me atirava à beleza das formas que criaste. Estavas comigo, e eu não estava em ti. Retinham-me longe de ti aquilo que nem existiria se não existisse em ti.” (Conf. X, 27,38).

É impossível não ler a dramática história de Agostinho sem compará-la com o relato do filho pródigo. A comparação vem naturalmente porque o próprio Agostinho, nas Confissões, se lê dentro daquela famosa narrativa. Falando desse processo de perda da identidade que leva a perda da dignidade, Agostinho confessa que se perdeu do caminho de Deus, andando longe, porque andava por fora, buscava fora o que poderia encontrar dentro de si mesmo. Ele se perdeu em uma região longínqua: “De fato insisti em apoderar-me de boa parte da minha herança, e não quis confiar-vos minha força, mas afastei-me de Vós  para uma região longínqua a fim de tudo dissipar em paixões  Luxuriosas. (Conf. IV, 16,30).

Agostinho se pergunta onde Deus estava quando ele se perdia e porque não o encontrava? “Onde estáveis então? E como estáveis longe de mim! Mas depois se dá conta que a pergunta justa era esta: Antes, era eu que estava afastado de Vós, excluído até das bolotas que distribuía aos porcos (Conf. 3,6,11). Este modus vivendi pautado na exterioridade, andando sempre por fora, levou-o a cegueira e a surdez. Foi preciso a misericórdia e Ele faz questão de acentuar isso muitas vezes, a misericórdia de Deus a romper sua cegueira e abrir-lhe os ouvidos. Depois de muito se perder, ele se dá conta que não precisa ir longe, que Deus é muito mais próximo do se imagina, Deus está no mais profundo de nós mesmos: “Estáveis mais dentro de mim do que a minha parte mais intima. E éreis superior a tudo o que eu tinha de mais elevado (Conf. III, 6,11). Não precisa viajar para longe, antes é fundamental escavar nossas profundezas. Não te disperses. Concentra-te em tua intimidade. A verdade reside no homem interior. (Ver. Rel. 39,72).

Artigo escrito por:
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Fonte Centro de Estudos Agostinianos
Imagem Província Agostiniana do Brasil
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