Santo Agostinho e a busca pela felicidade
Santo Agostinho postula que o desejo universal de felicidade nasce da nossa condição como criaturas imperfeitas. Ele argumenta que a verdadeira felicidade só pode ser encontrada na busca por Deus, visto que Ele representa a fonte suprema de plenitude e satisfação.
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05.10.2023 - 16:07:00 | 3 minutos de leitura

O desejo de felicidade é o mais universalmente presente, de modo que não existe ninguém que não queira ser feliz. Santo Agostinho e toda a tradição filosófico-literária antes dele discutiram muito esse tema. Todos são unânimes em definir o homem como um ser que deseja ser feliz. Mas todos divergem quando se trata de definir o objeto da felicidade. Convergimos no desejo pela felicidade, divergimos nos caminhos que devemos tomar para realizá-la. Se diz que o glutão que se empanturra de comida e bebida e o asceta mais rigoroso se unem e se tocam no desejo comum pela felicidade.
O desejo de felicidade nasce em nós porque somos criaturas, ensina Santo Agostinho. Deus não tem desejo de felicidade, já que Deus não carece de nada. Ele é a felicidade em si. Já as criaturas nascidas do nada são incompletas e comparando-as com o criador, muitíssimo imperfeitas. Nosso desejo de felicidade revela e desnuda nossa alma inquieta e insaciável. A felicidade e sua busca mostram nossa dependência. Não descansamos enquanto não encontramos.
A própria história de Agostinho não foi nada mais que essa busca pela felicidade. Depois de muito buscar, errar e sentir-se infeliz, Agostinho encontrou a felicidade quando se converteu. Entendeu que deveria oferecer aos homens um caminho, umas pistas que lhes orientassem no tortuoso caminho em busca da felicidade. Por isso, escreveu um diálogo chamado A vida Feliz (De Beata Vita), onde tenta responder: Como podemos ser felizes? Qual ou quais são os objetos que podem fazer-nos felizes e como consegui-los? Agostinho nessa obra estabelece uma relação íntima entre Felicidade e desejo. Não pode ser feliz quem não possui o que deseja. Mas também não é feliz quem tem tudo o que deseja. Mas, se é assim, quem pode ser feliz? É feliz quem possui o objeto justo e verdadeiro e que não pode ser tirado pelos golpes da fortuna.
Da troca de ideias com seus amigos e com sua mãe neste diálogo, emerge, após intensa argumentação, a conclusão de que Deus e a sua presença são os únicos elementos capazes de tornar o homem pleno e feliz. Dessa interação também se depreende que Deus e a felicidade são interdependentes e inseparáveis. Por isso, Agostinho escreveu: “a busca de Deus é a busca da própria felicidade. O encontro com Deus é a própria felicidade.” (Cf. De mor. Eccl. Cath. 11,18). Deus e a felicidade são dois nomes para um mesmo desejo de plenitude, de satisfação que atravessa a humanidade desde sempre. Quem busca Deus, busca na verdade a plenitude; quem quer ser feliz nada mais quer que aquele desejo profundo de sentido, de paz, de harmonia consigo mesmo e com o mundo.
Segundo Santo Agostinho, quando buscamos a felicidade, mesmo que conscientemente estejamos buscando outra coisa: amor, dinheiro, melhor situação financeira, estamos inconscientemente buscando a Deus, pois queremos uma plenitude, uma satisfação total, que somente Ele pode oferecer-nos: “só Aquele que torna bom o homem pode fazê-lo feliz, escreveu Agostinho.” (Carta 130,3)
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Fonte Centro de Estudos Agostinianos
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